terça-feira, 30 de dezembro de 2008

PEQUENAS DIFERENÇAS



Há geografias muito complicadas, por isso, tudo o que é longe fica em casco de rolha. Mas uma coisa parece certa, é que por enquanto o Dakar situa-se no deserto da Patagónia. E não me mandem abaixo de Braga porque a culpa não é minha.

sábado, 27 de dezembro de 2008

YESTERDAY

Qual a década que estamos a viver? pergunta-se Carlota enquanto espera o sinal verde dos peões. O número 6236 persegue-a há várias noites consecutivas e agora não dá mais para hesitar. Será o bilhete premiado na lotaria de fim de ano! Mas a luz verde demora a abria e o cauteleiro, do outro lado da rua, perdeu-se no meio da multidão. Num impulso imprudente, Carlota corre por uma aberta de trânsito, mas a distância é mal calculada. Duas horas depois, a etiqueta número 6236 estará atada ao dedo grande do pé.
Carlota não chegou a esclarecer a sua dúvida e os amigos apenas sabem que ela era fascinada pelos míticos anos sessenta dos Beatles.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

FIQUEM BEM!

Nada tenho contra a tradição e não desgosto de festas que promovem o calor humano e que, quanto mais não seja embora talvez a custo, ajudam as pessoas a lembrar que, afinal, o universo não se resume à individualidade de cada um.

Do que não gosto nem suporto é de palavras de circunstância, palavras vazias de sentido, palavras que são ditas porque são de ser. Palavras que à semelhança dos ritos, se sobrepõem ao verdadeiro espírito da ocasião. Desprezo palavras de pesar ou pêsames, palavras de encorajamento, palavras de felicitações, palavras de votos, palavras que atestam falsos sentimentos.

As pessoas que me conhecem e que gostam de mim sabem, sem que tenha que o atestar com expressão, que desejo o melhor a todas as pessoas, agora e em qualquer hora, seja Natal ou Carnaval. Desejo tudo de bom às que me respeitam e que me elevam aos píncaros da auto-estima assim como a aquelas que tentam humilhar-me pela exibição da única faculdade que lhes dá esse direito - o poder de poder determinar o saldo da minha conta bancária - às que me julgam enorme e às que se acham enormes e com autoridade moral para julgar a minha própria moralidade. Não sinto qualquer necessidade de exprimir estes meus desejos a ninguém em especial nem em qualquer especial ocasião, assim como não sinto de os receber. São, portanto, valores e desejos intemporais e universais. Fiquem bem!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

UMA PORTA ENTREABERTA


Hoje, o dia adiado que há-de vir...

As palavras nunca dizem o que querem dizer
E é tramado não ter mais do que as palavras
Para pôr na mesa, para jogar com a vida na boca.

A verdade é tão frágil, tão louca!

É mais fácil fechar os olhos
Para nos olharmos de frente,
E mesmo assim vale a pena o abraço...

Agora só nos falta viver o que vivemos,
É que afinal já temos tudo...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

COM LAÇO NO TELHADO

A Câmara de Lisboa tem à venda não sei quantos palácios e com preços de saldo! Aqui fica a sugestão para quem ainda não fez as compras de Natal. Não sei é se fazem entregas ao domicílio...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

TOCAM OS SINOS!



Mais enjoativas do que os doces de Natal são as campanhas de solidariedade que se acumulam nesta época.
Porém, a atitude mais ignóbil é o aproveitamento camuflado, são os engodos muito bem montados para nos sacar pela lágrima, e em simultâneo, pela moeda.
De destacar os programas televisivos que, sem nenhum pejo, usam elaborados ardis para nos endrominar. O Natal é o mote para a pratica de boas acções, sendo que o número telefónico 760 é a causa de todas as causas. Passado no rodapé como se nada fosse... Tão acessível às nossas carteiras, apenas 60 cêntimos + IVA, 50 dos quais revertem directamente para a causa em causa. (Então e o resto, incluindo o IVA, vai para onde? Não interessa.).
Para que não haja duvidas, faz-se, por exemplo, a reportagem com as cadeiras de rodas e andarilhos entregues aos idosos. Ah, muito bem!
Ajuda-se assim o Estado e demitir-se das suas verdadeiras funções. Coitado do Estado, tem bancos para salvar, não pode desperdiçar recursos em bagatelas...

ATÉ JÁ

Quando o trabalho aperta e o sentido de inexorabilidade desperta apercebemo-nos que apesar do tempo ser o que dele fazemos e que, por mais que disso tenhamos vontade, não volta atrás. A verdade é que há urgências que não podem, não devem, ser deixadas ao abandono e à mercê do toque implacável do tiquetaque. Vou estando à espreita, esgueirando os olhares que a odiosa responsabilidade, essa enfadonha fada dos seres imputáveis, me permitir.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

ECOLOGIA A QUANTO OBRIGAS


"Pardon”, uma marca de roupa oferece aos seus clientes, desde o início de Dezembro, um saco em que se pode ver a primeira-dama francesa nua."Práticos, divertidos e ecológicos, estes sacos, servem para tudo. Podem ser usados para ir à praia ou ir às compras. Resumindo, dão para tudo o que quisermos", afirma a empresa no seu site. Eu era menina para acrescentar que dão ainda para aquilo que os meninos estão, neste preciso momento, a cogitar. Ora nem mais! É que serve para isso mesmo! Digam lá que, multiplicando pelos milhões de adolescentes e solitários onanistas franceses, não serve para poupar umas consideráveis quantias do precioso e, cada vez mais, escasso “argent” em revista da especialidade! Bauésavapanon?

A VIDA EM APNEIA

Ensonada estica o braço e cala a voz decapadora de sonos que se esganiça da geringonça radiofónica do lado esgueira-se do quente dos lençóis cambaleante entra na casa de banho senta-se na sanita não precisam de saber para quê nem porquê dirige-se ao lavatório lava os dentes põe a água do chuveiro a correr tira o pijama toma o seu banho enxuga-se arrepiada penteia-se e seca o cabelo veste-se e dirige-se à cozinha coloca a taça de leite no micro-ondas retira-a coloca-lhe os cereais senta-se à mesa come os cereais levanta-se deposita a taça vazia na banca liga a máquina de café aquece a chávena no micro-ondas tira o café toma o café fuma um maldito cigarro dirige-se ao quarto das crianças mais um calvário para despertá-las do sono quinze minutos passados vence e finalmente rouba-as aos braços de Morfeu faz-lhes a higiene despe-lhes o pijama veste-as dá-lhes o pequeno almoço depois de ligar a televisão da cozinha para verem os bonecos enquanto comem prepara os lanches faz as camas pensa no que há-de fazer para o jantar vai ao congelador retira o saco de alimentos destinados à refeição nocturna coloca-o na parte debaixo do friogorifico pega nas mochilas e arrasta as crianças que resmungam porque não querem desligar a televisão descem as escadas entram no carro e finalmente não tendo em linha conta os passos autómatos esquecidos a este relato cada um enfiado o melhor que consegue dentro do seu casaco anti-inverno saem de casa.

Pedimos desculpa pela interrupção o programa segue dentro de momentos sendo certo que do tempo dos momentos nada mais sabemos de que tem tanto tempo quanto o tempo tempo tem.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

LAST CHRISTMAS



Não há volta! Não há Natal sem o "Last Christmas" dos "Wham"!

Há coisas que de tão recorrentes até enervam!
Mesmo assim continuo a gostar de ouvir.

VIOLÊNCIA OU EDUCAÇÃO

Há cerca de duas semanas relatei em post um episódio entre um adulto e uma criança intranquila e rebelde ao qual dei o título de “Educação ou Violência”. Não referi, no entanto, que a reacção à bofetada que a criança infligiu ao adulto como resposta à sua advertência verbal foi devolver-lhe a bofetada, evidentemente com a intensidade adequada à idade da criança. O caso foi, como seria de esperar, polémico. Depois das devidas explicações e pedidos de desculpa ao grupo de educadores incluindo os progenitores o adulto encerrou a questão de bem com a sua consciência.

Passadas as mesmas duas semanas, a criança dá de caras, pela primeira vez depois do incidente, com o mesmo adulto. De olhar tímido e apreensivo a criança estancou a sua correria ao deparar-se com a pessoa que lhe dera uma bofetada há uns dias atrás, esta por sua vez, abraçando o seu próprio filho. Apercebendo-se do constrangimento da criança, o adulto chamou-o dizendo-lhe que era seu amigo e que podia aproximar-se porque gostava muito dele. A criança, aliviada aproximou-se e disse-lhe: “Mas eu bati-te e belisquei-te.” O adulto abraçou-o e disse-lhe: “Pois foi e sabes que isso não se deve fazer nunca”. A criança acena afirmativamente com a cabecita e pergunta com a maior simplicidade e honestidade: “ E tu desculpas-me?”.

É irrelevante o relato da restante conversa porque o essencial está dito. Criança e adulto desculparam-se mutuamente e acabou ali, antes de começar, uma guerra. Estou certa de que aquela criança não voltará a esquecer a bofetada que recebeu em troca da que deu. Estou certa de que o objectivo daquela bofetada foi atingido e, mais do que tudo, estou certa de que foi educação e nunca violência. Estou certa, ainda, de que se os adultos entre si tivessem a imensurável sabedoria e desinteressada humildade das crianças a vida seria muito mais aprazível para todos, crianças e adultos.

O MENINO REAL




Todos os meninos são diferentes, mas uns são mais diferentes que outros.
Conheço um menino que revelou ser este o seu maior desejo: ter uma mãe que gostasse dele. Tem 6 anos.
Não inveja os outros meninos; apenas olha embevecido para as mães que vão buscar os seus colegas à escola, que os abraçam no reencontro diário.
No Natal, vou oferecer-lhe um casaco quentinho e um jogo a que tem direito. E vou continuar a sorrir-lhe com carinho todas as vezes que o encontrar.
Vou também pedir ao Pai Natal que lhe preserve, pelo menos, o pai que o tem criado e dedicado o amor difícil dos solitários.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

OPEN YOUR EYES



Mais um produto da minha auto-determinada reciclagem induzida pelo meu amigo drummer: Open your eyes?! No problem! Here I am with my open eyes and ears. E não é que gosto! Cooooool Steve!!!

Trance - uma das vertentes da música electrónica que surgiu em inícios dos anos 90. Deriva do house e do techno embora com alguma melodia. A grande maioria das músicas trance são calmas, produzindo um estado de alma energético e constante. Acentuado pelas batidas repetitivas e pelas melodias progressivas que levam um gajo a um estado de quase transe, dizem eles, e de libertação espiritual. Doutor, diga de sua justiça. Ainda não experimentei, mas sou gaja para isso e para muito mais! Para já fiquem-se com o “Open your Eyes – Insigma”

PALAVRA SUPREMA

sábado, 6 de dezembro de 2008

Das cidades, dos homens e do vento


Todas as glórias são iguais, embora umas sejam mais iguais do que outras. Efémeras, ilusórias. As das cidades, como as dos homens. Não valem a beleza do voo de uma ave, o esplendor quieto e silencioso de uma árvore velha.

De vez em quando é preciso sentar à beira de um rio, tentando ouvir as respostas que pairam no vento.

Se um dia me esquecer disto, por favor, lembrem-me.




quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

SECOND DEATH & SECOND OPINION







“Entre Deus e o Diabo” trouxe-me à memória o meu amigo baterista da “Second Death” - banda inglesa de heavy metal. Estranho?! Bizarro?! Os preconceitos são o que são! Não consigo ouvir por mais de 5 minutos acordes de heavy metal. Enerva-me, cansa-me, confunde-me a alma. Sempre achei que o dito estilo musical exorta a violência. Ele diz-me que é um equívoco, que se trata exactamente do oposto. Condena e tem como principal fundamento denunciar actos violentos. Certo é que o aspecto sujo, desleixado, desinteressado da maioria dos amantes de heavy metal, vulgo punks, contraria a amabilidade, a sensibilidade e a humanidade de quase todos os rockers, heavy e menos heavy, punks e até motards que tenho tido o privilégio de conhecer. Daí o meu viva à diversidade e à diferênça.

Hey Steve! This is for you, man!

FOBIAS IDEATIVAS

"Estou actualmente atravessando uma daquelas crises a que, quando se dão na agricultura, se costuma chamar "crise de abundância".

Tenho a alma num estado de rapidez ideativa tão intenso que preciso fazer da minha atenção um caderno de apontamentos, e, ainda assim, tantas são as folhas que tenho a encher que algumas se perdem, por elas serem tantas, e outras se não podem ler depois, por com mais que muita pressa escritas. As ideias que perco causam-me uma tortura imensa, sobrevivem-se nessa tortura escuramente outras. V. dificilmente imaginará que a Rua do Arsenal, em matéria de movimento, tem sido a minha pobre cabeça. Versos ingleses, portugueses, raciocínios, temas, projectos, fragmentos de coisas que não sei o que são, cartas que não sei como começam ou acabam, relâmpagos de críticas, murmúrios de metafísicas... toda uma literatura, meu caro Mário, que vai da bruma - para a bruma - pela bruma...

Destaco de coisas psíquicas de que tenho sido o lugar o seguinte fenômeno que julgo curioso. V. sabe, creio, que de várias fobias que tive guardo unicamente a assaz infantil mas terrivelmente torturadora fobia das trovoadas. O outro dia o céu ameaçava chuva e eu ia a caminho de casa e por tarde não havia carros. Afinal não houve trovoada, mas esteve iminente e começou a chover — aqueles pingos graves, quentes e espaçados — ia eu ainda a meio caminho entre a Baixa e minha casa. Atirei-me para casa com o andar mais próximo do correr que pude achar, com a tortura mental que V. calcula, perturbadíssimo, confrangido eu todo. E neste estado de espírito encontro-me a compor um soneto — acabei-o uns passos antes de chegar ao portão de minha casa —, a compor um soneto de uma tristeza suave, calma, que parece escrito por um crepúsculo de céu limpo. E o soneto é não só calmo, mas também mais ligado e conexo que algumas coisas que eu tenho escrito. O fenômeno curioso do desdobramento é a coisa que habitualmente tenho, mas nunca o tinha sentido neste grau de intensidade... "

Carta de Fernando Pessoa ao amigo Mário Beirão, 1 de Fevereiro de 1913

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

SER PROFESSOR

À minha amiga Valentina com 60 anos, professora de Latim e Português que, com grande desgosto, pedirá reforma antecipada no final deste ano lectivo por não aguentar mais o descalabro do ensino e das medidas do actual ministério. À minha amiga Valentina que, nada mais tendo a perder, está hoje em Lisboa, debaixo do temporal que se sente, a lutar pelos direitos e deveres dos seus colegas em início ou meio de carreira. À minha amiga Valentina que quando eu era aluna já era professora e que como professora soube cativar a minha amizade e admiração por ela como pessoa.

Ser professor é ser artista,
malabarista,
pintor, escultor, doutor,
musicólogo, psicólogo...
É ser mãe, pai, irmã e avó,
é ser palhaço, estilhaço,
É ser ciência, paciência...
É ser informação,
é ser acção.
É ser bússola, é ser farol.
É ser luz, é ser sol.
Incompreendido?... Muito.
Defendido? Nunca.
O seu filho passou?...
Claro, é um génio.
Não passou?
O professor não ensinou.

Autor Desconhecido

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

SERÁ?

É UM DESCONSOLO!

Ora nem mais! Vamos lá juntar aqui meia dúzia de gente idónea e honesta para salvar as parcas economias dos depositantes e demais credores do BPP. Sublinhe-se que o depósito mínimo do dito banco ascende, pasme-se, a 250.000 euros. Súcia de bandalhos e malfeitores! À falta de inspiração e tempo vou num instante ao quiosque da Mac buscar meia dúzia de insultos e já volto.

“Malandros, energúmenos, filhos de um deus mesmo muito menor, flibusteiros, valentões, sacripantas, mongas, estupores, esperem aí que tenho de respirar...Anormais, indecentes, bestas completas, camelos que nem mastigam, vacas secas, iletrados, inconscientes, prostitutos, anomalias idiossincráticas”.

Com é que se atrevem a empenhar 45 euros de cada cidadão português, veja-se que muitos nem sonham o que é ter 45 euros na mão em toda uma vida, para emprestar a esta corja de larápios da pior espécie?!!! Depois ainda há quem se admire por haver pessoas que queiram cantar ideologias ainda que utópicas! Que alternativas temos nós, a quem calam a voz, que não sabemos senão trautear, e mesmo assim, trauteamos ao som da música que nos dão ainda que mal nos caiba no ouvido?! Apaputakiuspariu corja de ladrões! Este país é um desconsolo!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

UM DIÁLOGO CHEIO DE ALEGRIA

— Olá, que cara de alegria é essa?
— Nem imaginas, acabei de fazer uma compra fantástica!
— Conta, conta..
— Mais uma nova antiguidade.
— Oh, parabéns! Mas tens a certeza de que é uma antiguidade e não uma velharia?'
— Claro que sim, até tenho aqui o certificado de garantia.
— Óptimo!... Ainda assim, quando o prazo da garantia terminar, não há o perigo da peça envelhecer?
— Posso ficar descansada, a loja faz excelentes trabalhos de restauro...