sexta-feira, 18 de junho de 2010

SARAMAGO


Se, depois da sua morte, quiserem escrever a sua biografia, não há nada mais simples. Tem apenas duas datas - a da sua nascença e a da sua morte. Entre uma e outra todos os dias foram seus.
Adapatação: "Se depois de eu morrer", Alberto Caeiro

10 comentários:

privada disse...

:-))

Mofina disse...

Fala do velho do Restelo ao astronauta

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.



José Saramago, Os Poemas Possíveis, Lisboa, Editorial Caminho, 1981

jg disse...

Hoje há luto na caserna.

jg disse...

Morreu Saramago. As "elites" não cessam de perorar sobre o Nobel. Enquanto bebia um café e comia um pastel de nata, desfilavam na tv, ao vivo e ao telefone, derramando sobre o dito cujo tanto quanto nunca se derramou sobre escritores maiores do que Saramago como, por exemplo, Jorge de Sena. Há uns anos Saramago entrou nos curricula liceais do regime e varreu a possibilidade de os meninos e de as meninas conhecerem literatura portuguesa aproveitável ou sofrível. A "oficialização" cultural de Saramago começou quando, estupidamente, lhe proibiram um livro num concurso qualquer. O Nobel, festejado pela paróquia provinciana como uma vitória internacional no futebol, acentuou o carácter quase místico da figura que, daí em diante, passou a tratar abaixo de cão qualquer poder politico que não o bajulasse adequadamente. O que afinal subsistiu em relação a Saramago foi o velhinho temor reverencial de um país com lamentáveis "tradições" culturais que, entre outros, fez de Saramago um "símbolo". E é esse que vai ser exibido por estes dias. Poucos ou nenhuns recordarão o pequeno tirano do Diário de Notícias ou a seca vaidade vingativa da criatura. "A morte absolve tudo", como ensinavam os latinos, mas nem tudo é absolvível pela morte. Paz à sua alma.

E ficamo-nos por aqui. Ok Blimunda?

Mofina disse...

JG, lamento que penses assim e continues a beber café com pastéis de nata. Tb fumas?

jg disse...

Mofina, se bem te conheço, e como conheço, o que tu querias dizer é que lamentavas não saber pensar assim.
Mas minha querida, eu andei nos fusos e assentei praça nos Carvalhos!!

mac disse...

A cada qual, como a 'statura, é dada
A justiça: uns faz altos
O fado, outros felizes.
Nada é prêmio: sucede o que acontece.
Nada, Lídia, devemos
Ao fado, senão tê-lo.

[Ricardo Reis]

António Conceição disse...

O melhor prosador português do séc. XX, para mim, é José Cardoso Pires. Mas Saramago não é mau e, em todo o caso, é infinitamente melhor do que a imagem que dele hoje deram os órgãos de comunicação social.

António Conceição disse...

Branquinho da Fonseca - esquecido e ignorado - escreveu pouco. Mas o que escreveu também é do melhor que em Portugal se escreveu no séc. XX.

Blimunda disse...

Penso que disse tudo o que tinha a dizer sobre Saramago na adaptação que fiz do poema de Alberto Caeiro. Recuso-me a debitar, por debitar, palavras que no seu conjunto dirão nada mais do que o que já foi dito dele em vida, por mim e por muitos outros. Deixo os comentários inteligentes para pessoas inteligentes e que sabem as palavras. Ok, Jg?!