quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A IDADE DO FRIO

Apetecia-me comer uma viola
Daquelas que se punham na árvore de Natal,
Recordar o tempo em que a minha avó
Cobria o chão com palha limpa
E tudo cheirava a fantasia....

Os serões punham sombra na parede,
O fogo ardia ao ritmo das palavras
E eu acreditava nas histórias de assustar
(tinha a certeza que debaixo das camas
viviam bichos que gostavam de pés de crianças....
por isso era bom dormir com a luz acesa!).
Gostava do cheiro do alecrim
Nas horas de trovoada,
Santa Bárbara sempre esquecida!

Apetecia-me esse sabor puro das manhãs
Quando o leite e o café
Eram aquecidos ao borralho.
Os dias acordavam assim,
Com essa infância aberta para a claridade,
A relva aparecia coberta por geada transparente
E era bom deitar fumo pela boca!

O tanque enchia-se de navios de sabão
E era bom andar de carapuço
Embrulhada em xailes de lã,
Ter as mãos frias
E a esperança doce das maçãs!

3 comentários:

Blimunda disse...

Nostalgia do tempo passado sem volta, isso sim, tenho muita. Das dores nas mãos geladas sem luvas, dos pés molhados pelo buraco da sola sem reparação, das violas e guarda-chuvas de chocolate como unica prenda do pai natal, da incomplacente Santa Bárbara, dos inocentes medos de criança, não Mofina, não sinto falta.

Blimunda disse...

No entanto, apetecia-me ter uma máquina do tempo, para voltar a provar, ainda que por momentos, todas as sensações que vivi ao ler esta tua Idade do Frio. Brilhante, como só tua!

saphou disse...

Notável. Também tenho essa nostalgia. Bjs às duas.