"Usa, cada qual, os olhos que tem para ver o que pode
ou lhe consentem, ou apenas parte pequena do que desejaria." MC, 75
Blimunda tem curiosos e estranhos poderes. As sensibilidades
apuradas fazem-lhe ver por dentro das coisas e das pessoas, quando em jejum.
“Olhaste-me por dentro. Juro que nunca te olharei por dentro. Juras que não o farás e já o fizeste. MC, 49”.
“Olhaste-me por dentro. Juro que nunca te olharei por dentro. Juras que não o farás e já o fizeste. MC, 49”.
A realidade que possui do certo e errado, do bom e mau, foge
aos paradigmas da época. Questiona o sentido das coisas não se submetendo
passivamente aos modelos de comportamentos sociais que lhe são impostos. É
preciso vencer a cegueira e viver intensamente. Blimunda atreve-se, contra as
mentes inquisidoras, a questionar o moralmente aceitável, adoptando
comportamentos que vão de encontro aos seus sentidos e sentimentos. Blimunda
foge aos padrões da época e aos códigos estabelecidos pela sociedade,
tornando-se exemplo de transgressão. É amada por uns e apedrejada por outros.
Pretender ser Blimunda vai para além de pretender ser amiga,
companheira, unificadora ou construtora. É pretender cravar em si o esteio de
todo um universo e fazê-lo girar como gira o mundo, em movimentos de rotação e
translação, capaz de ser noite e dia, de calmarias e de tormentas capazes de
destruir represas e assim permitir, na corrente do rio, novos caminhos e outras
fontes de vida. Blimunda destrói o arquétipo da mulher omissa e submissa,
dependente e escrava, tomando parte das decisões, tendo consciência da sua
participação e da importância do seu ser. Sabe que é um dos pilares desse
grande sonho, dessa ousada busca de liberdade e felicidade.
Esta é a Blimunda, personagem principal do livro de José
Saramago - O Memorial do Convento.
Eu sou apenas alguém
que, não desesperando por ser e saber mais do que aquilo que me consentem,
procuro sempre cumprir na sua essência aquilo que sei ser e respeitar
aquilo que são os outros, quando o sabem.
3 comentários:
recolhe as vontades, Blimunda, conserta a passarola e deixa-te voar
a.
:)
E tal como Cassandra sofrer o estigma e a maldição de nunca ninguém acreditar nela?
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