quinta-feira, 30 de julho de 2015

Fénix



"Usa, cada qual, os olhos que tem para ver o que pode ou lhe consentem, ou apenas parte pequena do que desejaria." MC, 75

Blimunda tem curiosos e estranhos poderes. As sensibilidades apuradas fazem-lhe ver por dentro das coisas e das pessoas, quando em jejum.
“Olhaste-me por dentro. Juro que nunca te olharei por dentro. Juras que não o farás e já o fizeste. MC, 49”.

A realidade que possui do certo e errado, do bom e mau, foge aos paradigmas da época. Questiona o sentido das coisas não se submetendo passivamente aos modelos de comportamentos sociais que lhe são impostos. É preciso vencer a cegueira e viver intensamente. Blimunda atreve-se, contra as mentes inquisidoras, a questionar o moralmente aceitável, adoptando comportamentos que vão de encontro aos seus sentidos e sentimentos. Blimunda foge aos padrões da época e aos códigos estabelecidos pela sociedade, tornando-se exemplo de transgressão. É amada por uns e apedrejada por outros.

Pretender ser Blimunda vai para além de pretender ser amiga, companheira, unificadora ou construtora. É pretender cravar em si o esteio de todo um universo e fazê-lo girar como gira o mundo, em movimentos de rotação e translação, capaz de ser noite e dia, de calmarias e de tormentas capazes de destruir represas e assim permitir, na corrente do rio, novos caminhos e outras fontes de vida. Blimunda destrói o arquétipo da mulher omissa e submissa, dependente e escrava, tomando parte das decisões, tendo consciência da sua participação e da importância do seu ser. Sabe que é um dos pilares desse grande sonho, dessa ousada busca de liberdade e felicidade.

Esta é a Blimunda, personagem principal do livro de José Saramago - O Memorial do Convento.

Eu sou apenas alguém que, não desesperando por ser e saber mais do que aquilo que me consentem, procuro sempre cumprir na sua essência aquilo que sei ser e respeitar aquilo que são os outros, quando o sabem.
 

3 comentários:

Anónimo disse...

recolhe as vontades, Blimunda, conserta a passarola e deixa-te voar

a.

Bli disse...

:)

Anónimo disse...

E tal como Cassandra sofrer o estigma e a maldição de nunca ninguém acreditar nela?