quarta-feira, 28 de julho de 2010
LIGAR AS COLUNAS (OU TALVEZ NÃO)
Num certo livro de matemática, um quociente apaixonou-se por uma incógnita.
Ele, o quociente, produto notável de uma família importantíssima de polinômios.
Ela, uma simples incógnita, de mesquinha equação literal.
Oh, que tremenda desigualdade.
Mas como todos sabem, o amor não tem limites e vai do mais infinito até o menos infinito.
Apaixonado, o quociente a olhou do vértice à base, sob todos os ângulos, agudos e obtusos.
Era linda, uma figura ímpar e punha-se em evidência: olhar rombóide (rombo=losango), boca trapezóide, seios esféricos num corpo cilíndrico de linhas senoidais (curvas).
– Quem és tu? – perguntou o quociente com olhar radical.
– Sou a raiz quadrada da soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode me chamar de hipotenusa – respondeu ela com uma expressão algébrica de quem ama.
Ele fez de sua vida uma paralela à dela, até que se encontraram no infinito.
E se amaram ao quadrado da velocidade da luz, traçando ao sabor do momento e da paixão, retas e curvas no jardim da quarta dimensão.
Ele a amava e a recíproca era verdadeira.
Adoravam-se nas mesmas razões e proporções no intervalo aberto da vida.
Três quadrantes depois resolveram se casar.
Traçaram planos para o futuro e todos desejaram a felicidade integral.
Os padrinhos foram o vetor e a bissetriz.
Tudo estava nos eixos.
O amor crescia em progressão geométrica.
Quando ela estava em suas coordenadas positivas, tiveram um par: o menino, em homenagem ao padrinho, chamaram de versor; a menina, uma linda abscissa.
Ela sofreu duas operações.
Eram felizes até que, um dia, tudo se tornou uma constante.
Foi aí que surgiu um outro, sim, um outro.
O máximo divisor comum, um freqüentador de círculos viciosos.
O mínimo que o máximo ofereceu foi uma grandeza absoluta.
Ela sentiu-se imprópria, mas amava o máximo.
Sabedor desta regra de três, o quociente chamou-a de fração ordinária.
Sentindo-se um denominador comum, resolveu aplicar a solução trivial: um ponto de descontinuidade na vida deles.
Quando os dois amantes estavam em colóquio, ele em termos menores e ela de combinação linear, chegou o quociente e nu giro determinante disparou o seu 45.
Ela foi para o espaço imaginário e ele foi para num intervalo fechado, onde a luz solar se via através de pequenas malhas quadráticas.
Millôr Fernandes
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10 comentários:
Que tragédia matemática, pá!
Por isso é que eu sempre me dei melhor com as letras. A exactidão numérica soa-me a falso!
Olha, não tinha ligado as colunas rsrs
Esquece a história de referir a fonte ;)
(Sim, eu leio o blog! Só que o gato comeu a língua...)
Marca Cardoso
http://www.cardosoeconceicao.com/instrumentos.php?cat=24
Especialistas em saxofones
Excelente!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Cardosos, Numeros Primos!
Não percebo, o Millôr Fernandes é primo de quem?????
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