quarta-feira, 16 de junho de 2010

ESTE POVO QUE NÓS SOMOS

Ontem, enquanto fazia o jantar, ia assistindo ao telejornal. Seguramente mais de 75% do tempo usado para as notícias e sempre na expectativa de ser informada sobre assuntos que deveras me interessassem, fui obrigada a assistir a um interminável e abjecto relato das reacções deste povo em que não me revejo, a uma denominada partida de futebol. Desliguei a televisão antes do final do espaço supostamente noticioso. Não minto se aqui deixar escrito que senti tristeza ao assistir às manifestações de alegria das muitas almas que ali vi, esperneando, puxando cabelos, agarrando a cabeça como se a solução das misérias pessoais estivesse na entrada da bola dentro das redes de uma baliza. Tristeza por saber que o fim desta humanidade é certo. Por suspeitar que enquanto o Homem não se convencer que os êxitos de uma nação não serão possíveis senão através dos pessoais e não dependem senão do esforço de cada um para o bem comum não haverá êxitos. A situação dramática em que vivem milhares de pessoas incluído um número obsceno de crianças não é suficiente para mobilizar meia dúzia de portugueses mas um desprezível jogo de futebol, em que cada uma das marionetes que por lá dançam articulando músculos a troco de milhões de euros é o suficiente para imobilizar um país inteiro.
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Desporto e Pedagogia

Diz ele que não sei ler
Isso que tem? Cá na aldeia
Não se arranjam dúzia e meia
Que saibam ler e escrever.
P'ra escolas não há bairrismo,
Não há amor nem dinheiro.
Por quê? Porque estão primeiro
O Futebol e o Ciclismo!
Desporto e pedagogia
Se os juntassem, como irmãos,
Esse conjunto daria,
Verdadeiros cidadãos!
Assim, sem darem as mãos,
O que um faz, outro atrofia.
Da educação desportiva,
Que nos prepara p'ra vida,
Fizeram luta renhida
Sem nada de educativa.
E o povo, espectador em altos gritos,
Provoca, gesticula, a direito e torto,
Crendo assim defender seus favoritos
Sem lhe importar saber o que é desporto.
Interessa é ganhar de qualquer maneira.
Enquanto em campo o dever se atropela,
Faz-se outro jogo lá na bilheteira,
Que enche os bolsinhos aos que vivem dela.
Convém manter o Zé bem distraído
Enquanto ele se entrega à diversão,
Não pode ver por quantos é comido
E nem se importa que o comam, ou não.
E assim os ratos vão roendo o queijo
E o Zé, sem ver que é palerma, que é bruto,
De vez em quando solta o seu bocejo,
Sem ter p'ra ceia nem pão, nem conduto.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

11 comentários:

jg disse...

Somos um miserável bando de desprezíveis palermas.

Sem recuperação possível. A curto e médio prazo.

privada disse...

Não somos nada, faz parte do processo, temos que ser fraquinhos para outros serem melhores. bah:-)))))))

Blimunda disse...

O orgulho ou ou a vã glória do insucessso. Há muito mais nobreza no fracasso que na vitória. É tão libertador sermos desgraçadinhos mas felizes e contentes, que a nós ninguém nos derruba. Esquecem é que ninguém pode derrubar quem do chão já não passa.

Mofina disse...

E qtos dias ainda temos de aturar...

privada disse...

estava aqui a pensar e agora já percebi, os morangos com açucar terminam antes do telejornal, estava a achar bue de estranho

Blimunda disse...

E levares com um coio na cabeçorra ou com um tojeiro nos olhos?

privada disse...

:-)))) Isso nao era nada estranho.

Blimunda disse...

Claro que era. Não me conheces.

jama disse...

Faz o jantar? E declara o rendimento daí decorrente? É que se não fizesse o jantar alguém teria de lho fazer e, nesse caso, teria de pagar a quem lho fez. Assim, tal como essa pessoa teria de ser tributada por esse rendimento, também quem faz o jantar para si próprio gerou um rendimento que, enquanto tal, é tributável segundo a concepção de rendimento acolhida no CIRS(rendimento acréscimo). Quanto é que custará um jantar feito por uma pessoa letrada como a Blimunda?

Blimunda disse...

É verdade, Jama! Nunca tinha pensado nisso. Valha-me Deus! E eu que sempre me vangloriar de nada dever ao MF e de sempre pagar os meus impostos, há anos que incorro em crime de fuga ao fisco. É que nem calcula o rendimento que tenho gerado e que me tem saído directamente destas mãozinhas que a terra há-de comer, desde que me conheço, sem que o tenha sujeitado, em tempo algum, a tributação. Relativamente à última pergunta e depois de lhe asseverar a minha ignorância quanto ao actual preçário da actividade que pretende cotar/taxar, era menina para comentar a sua adjectivação, plagiando a dupla Funes/Jg – “Ora, ora, só diz isso porque é verdade”.

100anos disse...

Apoiado, duas vezes apoiado.
Abaixo o patrioteirismo futeboleiro (que para rimar, ainda por cima é foleiro).