Há já algum tempo que me tenho vindo a abster de me manifestar sobre o estado da nação e/ou sobre os desmandos dos governantes. Não que nada tenha a dizer, não que concorde ou discorde das políticas assumidas, não que esteja tudo bem ou tudo mal. Têm sido maiores e mais fortes o cansaço, o tédio, a impotência sabida de palavras escritas a tinta branca e não escarlate e que nada pesam na balança do poder. É a triste consciência de que não existem Catarinas Eufémias nem padeiras de Aljubarrota. E, a menos que incorpore o caudal do mesmo rio e me deixe rebolar leito abaixo com a corrente ou em contrapartida me arme em revolucionária de cravo ao peito alvejada pelo facto de fazer ou não a depilação às pernas ou ao buço ou pela louca genica do que pela bravura e pela determinação, qualquer palavra que escreva cairá em saco roto. O que me acode e concorre neste momento para a materialização das palavras que se me escapam da cabeça para a ponta dos dedos é tão-só a vontade de gritar, a vontade quase incontrolável de chorar perante a certeza de que neste país dificilmente fará sentido esperar que aconteça justiça, equidade e probidade entre governantes e governados, independentemente do âmbito da governação. Como se os senhores deputados, aqueles senhores que propõem, ditam e aprovam leis que, sumariamente, lhes facilite a vida, tivessem parcos meios financeiros para o fazer. A quem foi, a título de exemplo, retirado cinco por cento do salário, coitadinhos, cinco por cento enquanto que aos outros, aos sacanas dos outros, é apenas retirado um ou um e meio. Àqueles senhores a quem depois de uma temporada numa assembleia supostamente do povo abrindo e fechando Magalhães e nos intervalos a boca para dizer umas bacoradas valentes, passam a ter direito a beneces que a maioria de nós desconhece. É a esses senhores que, em tempo de crise apontados e publicitados como o estandarte do bom exemplo, se lhes retirou cinco por cento ao salário - porque Dona Merkle Branca mandou - mas e sem que se note em demasia, se aumenta significativamente o orçamento para transporte, deslocações e estadas, despesas com seminários, exposições e similares, artigos honoríficos, decoração do Parlamento - pasme-se - e “outros trabalhos especializados” - uma caixinha de utilidades onde cabe tudo o que se lhe quiser enfiar dentro. Não haverá solução porque nunca ninguém lhes ensinou que cada migalha é pão.
14 comentários:
E o Zé Povinho que aguente e não chore!!Já se sabe!
Sabes muito mas eu sei ligar as pontas.
O teu subconsciente prega-te cada rasteira...
O que vale é que há pouco olho de falcão para as catar!!!
Minha Catalina (opsss, não gosto nada de Hugolina), aguentar lá vai aguentando porque não tem outro remédio. Agora chorar nenhum energúmeno o pode impedir de fazer, pelo menos enquanto não inventarem um imposto para lágrimas vertidas.
Jg, não duvido nadinha da tua capacidade de soldador. Agora não entendo é porque é que falas de subconsciente e de rasteiras. Parece-me que esse teu olho de falcão te anda a enganar fazendo-te acreditar que descobres escondido o que está a vista de todos.
Tás mt lerdinha... eu a falar de alhos e tu de bugalhos!!
Palavras da verdade. Pena que não sejam da salvação.
Se o dizes, Jg!
Meu capitão, foi promovido?
Após ler os comentários “…aguentar lá vai aguentando porque não tem outro remédio…”, discordo Blimunda. Existe outro remédio, “…o povo é quem mais ordena…” assim o queira, com alma. Lopes Graça “gritava”:
Acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
…
Tem de haver derramamento de sangue Blimunda. Não agrada a ninguém, mas vão sendo horas. De contrário a humanidade perderá o resquício de dignidade que ainda vai pontuando por aí.
Não sou o capitão. Pretendo apenas homenageá-lo com o “Vip merda”.
Para além de entender que a figura de Vip é completamente antagónica com a democracia.
Caramba! A Blimunda fala como o Padre Manuel Bernanrdes.
Digo, "Bernardes"
Ora, o Mestre só diz isso porque é verdade.
Não posso ler estas coisas, sonho toda a noite ke estou a manobrar um ze galotes.
Gostei muito
....mas Blimunda, qualquer dia o povo está na rua (este povo aguenta muito, é esse o problema), porque não vai aguentar a fome
Nessa altura quero ver quem o irá apoiar indo também para a rua.
Eu também, Marta.
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