quinta-feira, 8 de abril de 2010

PARA MAC COM AMIZADE II

Estaria ela a viver na sombra do seu corpo? Se a alma tem vida própria e o corpo não é senão o esqueleto que disfarça os seus contornos, teria esse corpo o direito de se chamar Mac? Passara o dia a olhar-se ao espelho e não conseguia detectar nenhum sinal dessa alma escondida nos sulcos da pele. Subitamente, assomou-se-lhe ao pensamento o poema de Alfred Tennyson e, com voz tonitruante, declama como se da sua voz dependesse o sucesso de mais meio século de existência.

The Eagle
HE clasps the crag with crooked hands;
Close to the sun in lonely lands,
Ringed with the azure world, he stands.

The wrinkled sea beneath him crawls;
He watches from his mountain walls,
And like a thunderbolt he falls.

A águia sempre desperta e alerta recusa-se a descer a sua montanha e eleva-se, sumptuosamente, em sua legítima altivez, dando grossa caça à desgraça e ao desalento. O derrubamento será sempre calculado e em sereno êxtase descerá os degraus da vida que erigiu e a cada lanço, orgulhosamente, repetirá: tudo isto é meu, tudo isto sou eu, tudo isto existe porque a verdade daqueles que agem como se não houvesse público, sempre me acompanhou.

4 comentários:

privada disse...

oh Blimunda não era "tudo isto é fado"?

mac disse...

É "tudo isto é fado" sim, privada, mas em inglixe, tem outra panache.

Bli, terás tu perfeita consciência do que me deste hoje, em vários sítios, em vários tempos, com vários tons?
O que me vale é que não tenho contabilidade organizada, senão deitava-me ao rio por dívidas impagáveis.

Blimunda disse...

Ora Mac, as dívidas existem porque se adquiriu um bem ou um serviço prestado e não se pagou no acto de entrega, a pronto, portanto. Não me parece definição que caiba no nosso contexto.

Ouvi de alguém, um dia, que a amizade é uma via de dois sentidos. Ora vem, ora vai.

mac disse...

Certeira, sempre.

Bj, minha amiga.