segunda-feira, 27 de julho de 2009

O HOMEM QUE FOI TORNEIRO

Chamam provocação ao género insubmisso que teima em debater-se e contestar afirmações do tipo-“Uma fulana que dá umas quecas com quem lhe apetecer, pelas mais diversas razões que só a ela dizem respeito, é uma galdéria. Se os fulanos que alinharem com ela lhe derem uns trocos ou umas prendas, passa de galdéria a vaquita. Mas se assentar o rabo num estabelecimento para servir a clientela, passa a prostituta. Curiosamente se optar pela berma da estrada, é uma triste.” Eu chamo-lhe indignação!
Que moralidade é esta que nos venda os olhos como pala de asno e nos empossa de todo o poder de julgar e condenar. Que sabemos nós da vida, da razão ou da falta dela de indivíduos que se deitam ou não por esta ou por outra razão, para lhes adjudicarmos o título de galdéria, vadia, vaca maior ou menor ou ainda prostituta por assentar o rabo num estabelecimento e servir clientela. Julgo da maior oportunidade e de profícua acuidade a aclaração da significação dos termos “estabelecimento” e “clientela”. Para melhor nos situramos diria que assenta como luva de pelica ao termo “estabelecimento” a definição de acto ou efeito de estabelecer morada fixa. Talvez tudo se resuma a um código de regras mercantilistas pré-estabelecidas pelo “bicho social”. Dizem-me que uma mulher que se desprende do seu próprio corpo e o oferece em troca de benesses pecuniárias é uma prostitua enquanto que outra que faz exactamente o mesmo em troca da paz familiar é uma boa esposa. A mulher que se sujeita aos desmandos e violência física e psíquica do homem que supostamente a deveria proteger da maldade de outros homens, é uma prostituta que tem um proxeneta, a outra que faz exactamente o mesmo ao abrigo de uma “coisa” a que chamaram casamento e debaixo de outra a que alguém entendeu designar por “lar” é uma coitada sujeita à violência doméstica apensa ao estatuto do marido, que a todos confunde mas que todos aceitam cobardemente. É um problema de homens, diz Saramago, a quem algumas mentes eleitas e supra-inteligentes chamam “torneiro” como se “torneiro” fosse o maior dos nomes ultrajantes e insultuosos. Como se ser torneiro seja sinónimo de poucas faculdades mentais e espirituais. São estes homens que sem o menor dos pudores e com a mesma bitola tanto qualificam um ser humano de galdéria e vaquita como de torneiro que fazem o quórum dos tribunais das ruas e dos que se situam para lá dos portões de cada um de nós e, assim, autenticam todos os desvarios dos homens que pelo simples facto de o serem, são soberanos no juízo alheio. O mais risível destes comportamentos soberanos é a auto-complacência consigo mesmos porque, ainda assim, auto inocentam-se afirmando que não pretendem pregar qualquer moralidade. Eu diria que não pretendem porque entendem ser essa moralidade intrínseca a si mesmos e obvia aos outros e não terem que a pregar porque se não é perceptível é porque os outros são desprovidos da sua enormíssima e inatingível sabedoria.
Tudo isto tem a impotância que tem unicamente porque é um problema de homens. Em caso de não ser passível de perda total das glândulas do escroto para quem as tem, sugiro a leitura deste texto do homem que foi torneiro. Quem as não tem lerá, certamente, sem qualquer prurido ainda que não seja apreciadora do escritor nessa mesma qualidade ou ainda como homem.

12 comentários:

teresa g. disse...

Um ponto para a Bli!

teresa g. disse...

Um não, cinco, dez, sei lá ;)

Mofina disse...

Mau, querem ver que é desta que tenho de advogada do diabo!

Lembro-vos uma quadra de António Aleixo:

A rica tem nome fino
A pobre tem nome grosso
A rica teve um menino,
A pobre pariu um moço!

Foi neste registo que li o comentário do comentador. Estarei errada?

Mofina disse...

*tenho de fazer, digo.

teresa g. disse...

Pois, o problema é sempre dar nomes, porque os nomes carregam consigo significados.

E os significados, quando, mesmo inconscientemente implicam um julgamento são uma coisa muito escorregadia. Porque se bem percebi o texto da Bli, que li um tanto à pressa, ela tentou dizer o que eu também acho - ninguém é algo sozinho - todos nos fazemos uns aos outros. Quem faz uma protituta são em grande parte os homens que a exploram (oJG tb referiu isso, ok. Quem faz uma 'galdéria' são provavelmente as muitas pessoas que não deram o afecto suficiente para que aquela pessoa se sentisse valorizada.

Isto dava pano para mangas e eu tenho que ir embora!

teresa g. disse...

Isto foi um comentário mto confuso, se tiver oportunidade um dia destes volto cá.

jg disse...

Para variar, Blimunda baralhou o que eu disse com o que ela acha que eu quis dizer.
É um erro corrente, característico e até certo ponto legítimo. Mas não deixa de ser um erro.
“Uma fulana que dá umas quecas com quem lhe apetecer, pelas mais diversas razões que só a ela dizem respeito, é uma galdéria. Se os fulanos que alinharem com ela lhe derem uns trocos ou umas prendas, passa de galdéria a vaquita. Mas se assentar o rabo num estabelecimento para servir a clientela, passa a prostituta. Curiosamente se optar pela berma da estrada, é uma triste.” O facto de nesta transcrição se situar a opinião da esmagadora maioria das pessoas - homens e mulheres - não implica necessáriamente, e não implica de facto, a minha concordância.
De igual modo, desconheço onde foi desencantar a ideia peregrina de que acho a tornearia uma arte menor ou desprezível.
Curiosamente, os defeitos que me aponta parecem constituir as maiores virtudes que, subliminarmente, faz questão de publicitar como suas.
Parafraseando Mac, à minha maneira, diria: são tudo coisas que não me ralam...

Nota: Sobre o torneiro que virou Nobel, associo-o sempre à minha definição de autodidacta em que autodidacta é todo aquele que se permite dizer disparates por conta própria

jg disse...

Concordo plenamente com a pontuação atribuida pela Teresa G, ainda que modesta.
Por mim, vão vinte (20) valores para a surpreendente construção frásica "...Julgo da maior oportunidade e de profícua acuidade a aclaração da significação..."
Quem fala assim, trata o paquímetro, aka peclice, por "tu"

Blimunda disse...

Ai pá, de repente deu-se-me uma gastura....Antes que se me apague de vez queria apenas agradecer com dois beijinhos e a promessa de um cafézito futuro a estes meus queridos avaliadores. um (1); cinco (5); dez (10) e vinte (20) é pontuação e peras, caramba!

privada disse...

Bem mas Blimunda o JG julgou e tu julgaste o JG, sois os 2 culpados.
100 pontos para mim!!!!

saphou disse...

Um milhão, mas sem Magalhães. Os torneiros levam muito caro. Esses e os canalizadores.Se eu soubesse o que sei hoje, seria torneira mecânica.

mac disse...

Calma, muita calma!

Até porque - como aprendi ainda hoje mais uma vez (nalgumas coisas sou mesmo nhurra!) - as palavras e respectivos significados são estranhamente diferentes conforme o sujeito que as usa.