quarta-feira, 8 de julho de 2009

FUNES E SARAMAGO

"Algumas pessoas levam a vida à procura da infância que perderam. Creio que sou uma delas. " - José Saramago

Comecei a ler Saramago pelo “Evangelho Segundo Jesus Cristo”. Dos dezoito, salvo erro, romances seus publicados li sete. Espero, oportunamente, ler os restantes. Admiro-lhe o estilo. Há dias li um livro de Italo Calvino e estranhei o paralelismo estético que pude conferir entre ambos. Numa recente pesquisa sobre o segundo, constato que também este pertenceu ao Partido Comunista, desta feita, Italiano, tendo renunciado à filiação em 1957. Não faço ideia de quando o fez Saramago. Estranho a coincidência e acabo por recear a tendência para escritores de esquerda. Não por ter alguma coisa contra aquela ideologia mas unicamente por sempre tentar evitar o tendencialismo generalizado seja em que área for. Nos últimos tempos tenho mergulhado em Isabel Allende e, não obstante não lhe conhecer filiação política, todos sabemos que a sua obra é marcada essencialmente pela contestação à ditadura implantada no Chile em 1973 e que derrubou o Presidente Salvador Allende, primo de seu pai, também ele do partido comunista.

Mas não era sobre isto que eu pretendia falar mas sim sobre a auto-determinação que cada um de nós tem em escolher esta ou aquela terra para viver e sobre o direito que todos temos em coabitar com este ou aquele povo sob as demandas deste ou daquele governo, bem como de manisfestar, pela via que melhor nos convier, este ou aquele desagrado face aos comportamentos dos outros para connosco.
Tem-me feito alguma confusão mental o desprezo com que algumas pessoas, felizmente não tenho ouvido muitas, se referem a José Saramago. Achei uma certa graça a um texto que o Mestre Funes escreveu qualificando-o de rebelde oficial e exemplificando essa rebeldia com a questão que alegadamente Saramago terá retoricamente colocado - “Prémio Nobel, e depois?”.
O Mestre denuncia, assim, a falsa modéstia de Saramago acusando-o de não pretender senão provocar o exacto efeito contrário. Não querendo, de forma alguma, entrar em conflito ideológico com o Mestre, até porque sem falsa modéstia, perderia à primeira volta todos os meus suados feijões, gostaria de traçar um paralelo entre algum conteúdo do que escreveu sobre o nobel da literatura e o que escreveu sobre si mesmo neste post.

Citando Funes: “A blogosfera abunda em mediocridade. De um modo geral, "Funes, el memorioso" eleva-se um pouco acima dessa geral mediocridade. Este, este e este post formam mesmo um conjunto genial. Expliquei aqui porquê. Não espero que essa explicação convença muita gente. É-me indiferente. Eu sei que é um conjunto genial e orgulho-me dele.”; e ainda: “Não sou um escritor repentista. O pensamento e a forma não me saem à primeira. Escrevo, re-escrevo, risco, deito fora e começo de novo. Pertenço àquele grupo de literatos que, numa entrevista a um jornal literário, poria um ar pungente e superior, confessando ser senhor de uma escrita sofrida.” Em jeito de cereja no topo do bolo diz ainda: “Repito, a ver se percebem desta vez: os Vossos comentários são-me absolutamente indiferentes. Não alteram os meus estados de alma. Mas aceito dinheiro.”

Assim, de repente, parece que o Mestre adopta uma postura completamente oposta à delatada por si em relação a Saramago quando este pergunta: “prémio nobel, e depois?”. Quanto a mim, não passa de aparência porque na essência se um peca por propositada falsa modéstia ao ponto de provocar o desejado efeito contrário, o outro pecará por excesso de desprezo pelos potenciais premiadores da sua escrita, provocando de modo igual o desejado efeito contrário ao intrinsecamente presente na sua afirmação. Pela sua ordem de ideias, Mestre, e pelo meu entendimento não vejo diferênça entre os dois - Saramago e Funes.

Não me seria difícil entender se na primeira oportunidade e com a vantagem de não constar do seu curriculum nobel algum, o Mestre – escritor apenas - se pusesse a léguas dos seus conterrâneos leitores por quem nutre declarada indiferença e cujas críticas não alteram os seus estados de alma de literato não repentista de ar pungente e sofredor, senhor confesso de uma escrita sofrida a qualquer revista literária, ar esse antípoda ao ar superior e pedante, por si denunciado, de José Saramago - escritor consagrado e Nobel da literatura - auto declarado um português calado e discreto que um dia apareceu por Castril levado pela mão da pessoa a quem mais quer no mundo.

14 comentários:

Mofina disse...

Que fumaste?

Mofina disse...

Efeitos da casa ao contrário?

Blimunda disse...

Peito feito, amiga, peito feito!

É que, a mim, também não me levam à missa os pedantes e arrogantes. Seja lá de que forma forem vestidos!

privada disse...

Bem, naturalmente o Mestre como as estrelas de rock farta-se dos fãns, veja o ke é estar a fazer um trabalho, escreve, apaga, e depois vem uma corja e entende tudo ao contrario, fazem daquilo uma palhaçada. É chunga. Eu sei porke me acontece o msm la nas obras.
Vamos daqui para frente fazer um esforço para estar à altura do Mestre- 1.65 creio.

Mofina disse...

descalço ou com meias?

Blimunda disse...

Ora Privada, falas assim porque estás habituado aos andaimes! Eu cá tenho muito medo d'alturas!

Privada, o bacoco disse...

Ei é identico não conhecia, mas a paisagem é ks o mesmo. Está altamente.

Privada, o bacoco disse...

Ei divinal é daqui entao a historia ou as paisagens da historia da morte. É practicamente igual, até o leito do rio, tem apenas mais casas, muito bom. Obrigado Blimunda, é identica à do Geres, ta fixe!

jg disse...

Só tive tempo par ler a primeira gabela.
"Dos dezoito, salvo erro, romances seus publicados li sete."
Lê 10 vezes este parágrafo e vê se concluis que ja empinaste Saramago de sobra.
É que é um primor de pontuação!!!

Privada, o bacoco disse...

Deixa lá isso, importante pá é ke encontramos a paisagem, eu sempre a pensar k eram referencias à terra fria, estou passado com a minha ignorancia. Incrivel , estou mt satisfeito, adoro reconhecer paisagens descritas, e afinal nao me enganei muito , Cabril e Castril, sao msm mt identicos.

Nao li a jangada pá. Acho ate ke ja ma levaram

Blimunda disse...

Agora entendes porque foi tão fácil e desculpável o engano?

Privada, o bacoco disse...

Sim, o nome pronto, mas a paisagem, o rio, a descrição social, é identico. Será ke o Saramago conhece Cabril, não precisava ir a Espanha a procura da infancia. Se em Espanha oferecem shopitos, na terra fria oferecem presunto e vinho tinto. Eh pá, tenho k ir a essa serra

mac disse...

Que se passa, minha amiga? Algo não vai bem na paisagem, disponha. A sério.

Blimunda disse...

Mac, esta foi profunda! Não captei!Suponho que há mesmo ago que não vai bem na paisagem. Agora não sabia é que era paisagística! Não me diga que faz concorrência à nossa Tê?