quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

NINGUÉM LHO TINHA DITO

“ Também o fuzilado esperava no outro extremo do pátio, sangrando lentamente. - Não lhe tinham contado, meu tenente? Todos sabem disso. Não. Ninguém lhe tinha contado. Na Escola de Oficiais fora treinado para lutar contra países vizinhos ou contra qualquer filho da puta que invadisse o território nacional. Também o treinaram para combater os meliantes, para os perseguir sem piedade e dar-lhe caça sem trégua, de modo que os homens decentes, as mulheres e as crianças pudessem caminhar tranquilos pela rua. Essa era a sua missão. Mas ninguém lhe disse que teria de dar cabo de um homem amarrado para fazê-lo falar, não lhe ensinaram nada disso, e agora o mundo estava a virar-se do avesso e ele tinha de ir dar um tiro de misericórdia naquele infeliz que nem sequer se queixava. Não. Ninguém lho tinha dito.”

“De Amor e de Sombra” – Isabel Allende.

São milhões e milhões os anos de histórias de guerras que assombram a humanidade. Hoje como ontem e como, sem dúvida, amanhã, outros relatos se seguirão. As atrocidades que nos descrevem provocam ondas do mais violento e indignado repúdio pela guerra e suas consequências mas nunca o suficiente para as evitarmos.

Ensinam-nos a honrar e a defender com a própria vida uma estéril bandeira, grávida de simbolismo, vácua de realismo, seja ela da pátria, da arma militar, do partido ou do clube de futebol. Enquanto o letrado povo ensina, treina, instrui, o povo raso captura, destrói e mata desconhecendo que é a si próprio que tortura e executa, porque não, ninguém lho tinha dito.

E é sempre da morte que se trata!

3 comentários:

Mofina disse...

Com um frio destes, é postagem que se faça?!?!

Mofina disse...

bbbbbbbrrrrrrrr...

Blimunda disse...

Mofina, é no frio que o gelo se conserva!